Quando criei o Colher de Chá, nunca imaginei que fosse dedicar um post para uma novela. Nada contra, mas o objetivo do blog é falar de coisas que giram em torno de assuntos de quem acaba de casar, como construir uma família, maternidade, casa e cia... Só que, justamente por isso, quero registrar aqui o por quê me apaixonei pela trama das 18h da TV Globo. Com um texto primoroso, os autores da "A vida da gente" debatem a maternidade de um jeito realista, aberto e, acima de tudo, sem tabus. Nesta novela, ser mãe e ser filho independe de ter ou não vínculo sanguíneo. O que vale é a relação que se constrói. Em praticamente todos os núcleos, existem os pais que criam, os pais biológicos e todas as matizes que permeiam esta complexa rede de sentimentos. Existe o amor incondicional, existe a rejeição, e, felizmente, nesta novela, existe o diálogo. Nenhum personagem é deixado sem voz. Cenas e mais cenas são baseadas na conversa entre dois personagens que abordam uma determinada questão e, acreditem, não tem espaco para monotonia. Os debates são contundentes, reais, poderia ser o seu primo, o teu tio, poderia ser você ali, naquela conversa. Junto com os personagens, o público pondera, observa as diversas faces de um mesmo prisma. Por isso, muita gente diz que nesta novela não há vilões, há questões. Questões de gente, da vida da gente.
Antenados com as novas configurações familiares, os autores mergulharam no desafio de ter a família como matéria-prima. Nesta trama - que me lembra os filmes argentinos, por fazer bonito com argumentos simples, sem crimes, apenas com conflitos pessoais -, a protagonista "oficial" não é uma mocinha que sempre acerta. Ao contrário, com atitudes duvidosas, a Ana (de Fernanda Vasconcelos) é muito fraca, sem atitude, covarde e sempre precisa que alguém lhe diga como agir. Uma "heroina" tão esquisita que por muito pouco não entregou a própria filha para adoção. Ao mesmo tempo, existe um patinho feio, que começou a novela como mera coadjuvante, a Manu (da maravilhosa Marjorie Estiano). Manu se enxergava sem mérito algum, como alguém incapaz de atrair o interesse de quem quer se fosse, e se escondia na cozinha. Sem graça, fraquinha fisicamente, sem atrativo algum, sempre rejeitada pela mãe, Manu pôde enxergar que a rejeição de sua mãe não era pessoal, era loucura.
Muito dificil para qualquer filho poder olhar para os pais e ver que, sim, eles erram, eles podem estar em surto, e que nem tudo o que eles falam é a verdade do mundo. E nesta novela quase todos os "filhos" passam por este momento em que precisam ver seus pais como são, sem idealização. Manu conseguiu enxergar esta desilusão, este luto por uma mãe viva, e viu que o problema não estava nela, mas na doença de sua mãe. Ela se libertou do papel de rejeitada. Desabrochou, foi contruir sua história. Montou um buffet, conquistou sua autonomia, e, bonita por ser feliz, despertou o amor do pai de sua sobrinha. Rodrigo (Rafael Cardoso) passou a admirar sua transformação e ver nela um caminho para si mesmo. Juntos pelo desafio de criar um bebe, Manu virou mãe mesmo sem ser. E Rodrigo pode ser o pai carinhoso que nunca teve. Juntos, semearam o amor, construiram um lar, cheio de cupcakes e fofuras que o happy end pede. Mas, eis que a irmã Ana ( a mimada pela mãe e, mesmo assim, amada por Manu) acorda do coma. Tudo vira de cabeça para baixo. Claro, se não não seria novela. E meses se passaram num vai e vem que acompanhei assidua e apaixonadamente.
Ok, mas novela é novela e o vai e vem de emoções desta está terminando nesta sexta-feira. Torço MUITO por ver a Manu junto com o Rodrigo. Isso seria o triunfo de um amor baseado na parceria, no companheirismo, na superação mútua. Quem assistiu sabe do que estou falando. Quem não assistiu vale a pena ver. Com certeza, para mim, valerá a pena ver de novo.